25 de Abril: o carro de 74 em Portugal
Um mês antes da revolução que daria por terminada a ditadura de 48 anos que “reinou” o nosso país, a bela localidade do Estoril viu acontecer o último Rally de Portugal do antigo regime. O grande vencedor foi a Itália, não só a nível de construtores, com a Fiat, mas também de pilotos, sendo Raffaele Pinto o campeão, ao volante do magnífico Fiat Abarth 124 Rally, seguido pelo também italiano Paganelli Alcide ao volante de outro Fiat 124 Abarth Rally.
Numa época em que ainda se corria ao domingo e vendia à segunda – ainda que no nosso país o caso fosse um pouco diferente, dado o regime e as condições sócio-económicas – não é de estranhar que o carro mais vendido em Portugal fosse o Fiat 127, com mais de 15 mil unidades nesse ano.
Com um preço de cerca de 95 contos (16.000 euros aos preços de hoje, segundo o INE), tinha um motor 4 cilindros com 0.9 litros, um carburador Weber e uns singelos, mas superiores à concorrência, 47 cavalos às 5600 rotações. Suficiente para, com os seus 688kg de peso, dar uns loucos 135 quilómetros por hora. Com 3 portas (mais tarde com versão de 5), o Fiat 127 tornou-se no ano seguinte o carro mais vendido na Europa, batendo Carochas, Polos e outros. Já tinha sido carro europeu do ano em 71. Qualquer petrolhead que se preze não fica indiferente ao magnífico Fiat 127 Sport, com aquela risca laranja à volta. Nossa!
Em segundo e terceiro lugar no top de vendas estavam a Toyota, com o Corolla a representar, e a Datsun, com o 1200. Ao nível da produção, Portugal fabricava, no conjunto de todas as suas fábricas de automóveis, cerca de 100 mil carros, sendo que, depois da revolução, esse número subiu, atingindo, no início dos anos 80, mais de 150 mil unidades. Hoje, produzimos mais de 320 mil. Isto foi transversal a todos os sectores, o que significou que 74 trouxe mais emprego e, com um Estado finalmente a caminhar para os plenos direitos, melhor emprego.
A evolução e crescimento económicos estão de mãos dadas com a educação e têm de estar também com a saúde e com o ambiente. Mas também com a cultura. O pós 25 de Abril foi um dos períodos em que mais crescemos culturalmente. Não só como consumidores mas como criadores. O fim da censura trouxe “espaço”. Na rua, na escola, nos cafés, na sociedade e, principalmente, na nossa cabeça. Não deixemos que a Revolução se apague da nossa cabeça. Viva a Liberdade!
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