Esta é a fórmula resolvente para desenhar um Porsche 911
Como eu gostava de ser designer de automóveis. Fiz as minhas primeiras tentativas ainda em criança e continuei a tentar depois disso. No liceu, todos os anos, lembro-me de ter as capas e as últimas páginas dos meus cadernos completamente carregadas de desenhos de carros. Mais tarde, continuava com essa ideia na cabeça e lá ia fazendo uns rabiscos também em casa, aqui um pouco mais elaborados e sem correr o risco de me retirarem os desenhos porque não estava a prestar atenção às cantigas de escárnio e maldizer, ao conhecimento empírico ou aos casos notáveis e à fórmula resolvente das equações de segundo grau.
Fiquei por isso agradado com o segundo e mais recente desafio #GetCreativeWithPorsche, dedicado ao design de automóveis. Nele, Michael Mauer, número um do design da marca de Estugarda, partilha dicas, passo a passo, para desenhar um 911. Não resisti. Fui buscar um caderno, uns lápis e canetas e sentei-me à secretária, num serão inspirado também pelo som da guitarra do David Gilmour, a tentar aplicar as dicas da Porsche naquela folha de papel. A minha ideia inicial era partilhar, juntamente com este texto, o resultado final da minha dedicação e esforço durante aquela hora. Mas depois de ver a minha interpretação do 911, decidi mudar de ideias, poupar-vos e não ofender a Porsche.
Mauer começa a sua aula de desenho pelas rodas, definindo a essencial distância entre eixos que permitirá igualmente definir as proporções correctas entre os vários elementos do 911. De seguida, “coloca-o no chão”, desenhando a linha horizontal entre as rodas, bem como um dos aspectos mais importantes neste trabalho, a linha de silhueta, tão característica do icónico modelo da Porsche. Seguem-se alguns detalhes como os vidros, também eles com formato muito próprio no caso do 911, e outros como a iluminação e os pára-choques. Um dos maiores desafios é, segundo Mauer, saber quando parar de adicionar detalhes e novos elementos, pois o princípio “menos é mais” é aqui, muitas vezes, bem aplicado.
Para além disso, é essencial adicionar uma sensação tridimensional ao esboço através de linhas e sombras como as da porta e guarda-lamas, elementos que ajudam a visualizar as curvas de um 911, com carroçaria de ombros largos devido ao maior eixo traseiro, por exemplo. De seguida, surge a “pintura”, não em estufa, mas em Photoshop ou à mão, destacando as zonas mais iluminadas com tons claros e brancos e, por oposição, criar as igualmente importantes e contrastantes sombras com tonalidades mais escuras. Um dos truques sugeridos é analisar fotografias e perceber como a luz incide em cada secção da carroçaria. Outra dica é nunca deitar fora os desenhos feitos anteriormente. São recordações e, ao mesmo tempo, elementos de aprendizagem. Herr Mauer incentiva todos a pegarem num lápis e papel e tentarem. Acredite, meu caro, eu tentei.
Formei-me em números e hoje trabalho com letras. No entanto, a admiração pela arte do design automóvel continua presente. Os “vintes” já lá vão e os “trintas” estão a passar rápido. Não tarda estou nos “entas” e continuo com essa mesma vontade e também com a repetida falta de talento. Algo de que rapidamente me apercebo de cada vez que pego num lápis para desenhar um carro, exactamente como me aconteceu desta vez. Pego hoje num lápis e escrevo, sem pestanejar: X igual a menos B mais ou menos a raíz quadrada de B ao quadrado menos quatro A C sobre dois A. Descubro o X num instante, mas caramba, o carro que desenhei hoje continua igual ao daquela aula de matemática de há 20 anos.
Imagens: Porsche