Honda Civic 1.0 i-VTEC: Um ‘1000’de alma dinâmica
No mesmo fim-de-semana em que o Rali de Portugal 2020 estaria na estrada, não fossem as condicionantes da actual realidade sanitária, a “Garagem” levou este Honda Civic 1.0 i-VTEC Elegance Navi até uma zona que, outrora, era um dos pontos altos dessa nossa prova maior de estrada: os troços da Lagoa Azul e da Peninha, em plena Serra de Sintra. Foi nesse palco que se realizou parte do ensaio a este modelo de características familiares que, quer visualmente, quer pela sonoridade do seu pequenino bloco de 988 cc, de apenas três cilindros, fez virar umas quantas cabeças, à sua passagem!
Sim, vou começar pela parte visual, afinal, como se diz “os olhos também comem”, para além de que um dos primeiros factores de compra de uma viatura é mesmo o design. Neste caso assume um ar de nave espacial, que cativa logo na secção frontal, linhas que, nesta décima geração do Civic – sim, este Honda já tem nove antepassados com o mesmo apelido, desde o conceito original, lançado em 1972 – evoluíram face ao anterior.
Durante a sessão de fotos alguém comentou: “Faz-me lembrar o Darth Vader”, talvez porque o seu ‘Cinza Polish’ escurecido faça um perfeito match com os detalhes do tipo piano black e com as grelhas de arrefecimento (mais as secções plastificadas das supostas entradas de ar adicionais, mais reais na declinação desportiva Type R), associadas a uns rasgados faróis que lhe dão um ar mean & tough. Já visto de lado, o Civic marca a sua linha vincadamente coupé de cinco portas, destacando-se o pequeno aileron superior no prolongamento do tejadilho e a antena tipo barbatana de tubarão, para além das bonitas jantes de liga leve de 17” de cinco raios em “U”; na traseira tenta-se imitar a parte da frente, local onde salta à vista o característico elemento que divide o vidro traseiro, assinatura que a Honda teima em manter.
E no interior? Bom… aí a sensação assume contornos mistos, pois frente ao condutor há toda uma continuidade futurista, decorrente do cluster digital animado, em tons de azul, que apreciamos comodamente sentados nos bancos confortáveis e que nos seguram em andamento e dão uns ares de bacquet. Já a consola central dá ideia que parou no tempo, apresentando um sistema de infotainment Honda Connect com Navegação Garmin que parece não ter evoluído… como o Civic! Claro que, uma vez que estejamos habituados à parte operacional, o dito permite aceder a todo um conjunto de funções de controlo, do modelo e dos sistemas que o equipam (climatização dual zone, as múltiplas ajudas à condução e de alerta ao condutor, áudio de 180 W, etc), num processo que se complementa pelos comandos de um volante que tem uma boa pega, sendo o sistema compatível com as plataformas Android Auto e Apple CarPlay, o que dá uma ajudinha extra na conjugação com os phones das nossas vidas.
Uma delícia de condução em modo speedy…
Mas giro giro é o motor e a sua conjugação com a caixa de velocidades, de comando ali mesmo à mão, com manete pequenina, do tipo joystick! Que delicia! Sim… ainda temos que dar à chave, pois não há botão de start, mas o que importa isso se quando esse mini 1000 turbo, de três cilindros, acorda silenciosamente, quase sem que nos apercebamos, mas de imediato surpreendendo com um sonoro “roarrrrrrrrrrrrrrr” ao pisar do acelerador.
Tal também acordou em mim aquela vontade de me tornar piloto de ralis ao longo de duas horas pelo que, num sábado em que o Rali de Portugal deveria disputar-se a norte e centro, nada melhor do que o levar para as cercanias da Serra de Sintra, conduzindo-o nos percursos, entretanto revestidos, de duas das outrora icónicas classificativas da nossa prova maior do automobilismo de estrada: Lagoa Azul e Peninha.
Manhã cedo, enquanto esperava pelo bate-chapas e por um dos donos da “Garagem”, também eles bem dentro da serra a fotografar outra viatura, deliciei-me com a condução do Honda Civic 1.0 i-VTEC turbo, equipado com um bloquinho de 988 cc e agora com 126 cv e 200 Nm, disponíveis logo a partir das 2.250 rpm, aproveitando a bem escalonada caixa manual de seis velocidades, transportando facilmente consigo os cerca de 1300 quilos do conjunto. Em total respeito por aqueles que escolheram acordar cedo para actividades como jogging ou cycling, por ali andei sem querer assustar ninguém, aproveitando para explorar parte das excelentes potencialidades do chassis do Civic, proposta que se mostrou sempre equilibrada e apta a responder às solicitações do acelerador e do travão – já agora, a pedaleira era em alumínio – sem que nunca surgissem surpresas desagradáveis, mesmo quando mais provocado, num processo ajudado pelas ligações ao solo, nomeadamente suspensões McPherson à frente e independentes atrás e pelos bons pneus 235/45 R17.
Se no trajecto da Lagoa Azul a coisa foi bem mais fluída, pois as estradas são mais largas e bem arranjadas, o antigo troço da Peninha serviu apenas para apreciar a paisagem envolvente, agora que tem um piso novo, muito diferente do velhinho alcatrão estragado das minhas lembranças, dos tempos em que acordava antes das galinhas para ir assistir ao rali, mas que se mantém demasiado estreito para grandes velocidades. Ou seja, eu fui matar saudades, o Civic foi comungar com a natureza e a beleza natural daquelas paragens, concentrando, aqui e ali, uns quantos – bastantes – olhares dos seus companheiros de percurso.
… e verdadeiramente familiar nos afazeres do quotidiano
De regresso à Terra, esta esguia nave made in UK, mas de alma japonesa, rapidamente se adaptou a uma toada mais tradicional, percorrendo sem limitações as quase sempre inevitáveis auto-estradas, onde, se tal fosse permitido, poderia atingir os 200 km/h de velocidade máxima anunciada, ou atravessando as localidades de um quotidiano tradicional, seja para um passeio junto ao mar, ou para as inevitáveis compras para abastecer a despensa.
Neste ponto, o Civic mostrou porque é um automóvel adaptado às necessidades familiares, disponibilizando 478 litros de capacidade numa bagageira ampla e de fácil acesso, que pode ser compartimentada, fruto da tampa amovível e adaptável. Claro que se precisar de mais espaço, os bancos rebatem e dá para levar uma prancha de surf ou outros materiais mais volumosos (1267 litros no total).
Falando em espaço, no interior há muito, para pernas, ombros, altura ao tecto e, no caso em que se chegue a cinco convivas, o ideal é só levar quatro, pois apenas o lugar do meio do banco traseiro não se adequa a grandes deslocações. Ainda assim, não houve queixas de maior!
Uma gama Civic 5p assente em três patamares
Numa configuração base, este Model Year 2020 do Honda Civic 1.0 VTEC Elegance Navi, é proposto, tal como o conduzimos, com caixa manual, por 28 770 € (inclui 550 € da pintura metalizada), sendo que numa versão de entrada Comfort, mais despida de conteúdos, a festa se faz por cerca de menos 3 000 €, num leque de preços que, em sentido oposto, ascende aos 30 040 € para a variante Executive, tendo a gama Civic outros motores e também caixas automáticas associadas (1.5 i-VTEC, a gasolina, e 1.6 i-DTEC, Diesel, ambos igualmente turbo), valores acima não incluem despesas de legalização e transporte.
Isto sem contar, claro, com as tradicionais campanhas de vendas que eventualmente se apliquem, num produto que inclui 7 anos de garantia sem limite de quilómetros e outros tantos anos de assistência em viagem. Ah… e o infamo IUC que lhe está anualmente associado é de 103,12 €.
Ainda no domínio dos custos, claro que falta referir os consumos, sendo que nunca conseguimos baixar do patamar dos 7,5 l/100 km de média – sorry Civic!!! – muito em resultado de um andamento inicial mais vívido pela Serra de Sintra, longe dos valores médios anunciados pela Honda, bem mais simpáticos, na ordem dos 6,1 l/100 km!
Tudo somado temos um conjunto em que o design cativa, a condução entusiasma – e de que maneira – e em que o conforto está assegurado. Os detalhes menos conseguidos ou que precisem de actualização serão, decerto, revistos no próximo Civic, 11ª geração que chegará ao mercado em 2022, ano do cinquentenário do modelo, lançado na senda do N600, modelo a que me referi num dos anteriores “Desafios da Garagem”. Até lá, aproveite-se, com orgulho, esta bem equilibrada proposta para o segmento C.
Fotos: Automotiva