Um dia nos bastidores da Garagem
Este foi um dia diferente. Não foi perfeito, mas quase. Foi, em muitas coisas, igual a qualquer outro sábado. O facto de ter passado muito depressa, por exemplo. Mas diferente porque, inesperadamente, permitiu juntar praticamente toda a equipa da Garagem. E inesperadamente porque para este fim-de-semana, tinha pedido à Renault Portugal o seu fabuloso Megane RS Trophy-R, esse monstro de carro que teimava em escapar-se-me da agenda e a que se juntou, à última da hora, um menos radical mas não menos apelativo Ford Focus ST. O plano nunca foi juntá-los num trabalho, pois não são versões comparáveis. O plano era juntá-los porque podíamos fazê-lo sem sequer o ter planeado. E quando menos esperávamos, cai uma mensagem na caixa de email da Garagem a sugerir um reencontro com o Toyota GT86. Eu de Megane, o Rafael de Focus e o Guilherme de GT86, só o “Jota Pê” estava sem rodas para ensaiar nesse fim-de-semana. Ainda assim, perguntei: “Olha lá, Jota Pê, e que tal vires connosco no sábado até à Serra da Arrábida?” O “sim” não demorou a chegar e rapidamente se traçou um plano que a todos fosse conveniente.
Com bastante antecedência, já tinha tudo combinado com o Pedro Francisco para que o Renault e o Ford fossem fotografados. Poder contar com a ajuda dele não só é um privilégio para a Garagem como me dá vontade de vender a máquina fotográfica e dedicar-me ao coleccionismo de dedais. Mas assim foi, em vez de dois, seriam três os carros a fotografar. E eis que, alguns dias antes, toca o telemóvel. Do outro lado, o Fábio Lopes, um ex-colega vídeografo, com tanta vontade quanto talento (se não acreditam, vejam o filme dos 110 anos da Alfa Romeo), que me queria perguntar quando é que podia participar numa produção de um novo conteúdo para a Garagem. “Oh meu amigo, é já no sábado. GT86, parece-te bem?” E foi assim, sem contarmos com isso, numa estranha compatibilidade de agendas, que juntámos três carros e seis pessoas fora da Garagem. Só lá faltou a Mariana, a estratega, a conselheira e uma grande motivadora do projecto.
Venha de lá a Arrábida
O ponto de encontro foi na área de serviço da A2, logo após a saída de Lisboa. Pouco passava das 6h30 quando atravessei a Ponte 25 de Abril com o Trophy-R. O cenário, a luz, o carro. Quase tudo estava perfeitamente alinhado naquele momento. Em menos de nada, no conforto possível de tão exímia e feroz máquina, dei por mim no local combinado. Ali esperavam-me o Rafael, e a dupla Guilherme e Fábio, cujos Ford e Toyota estavam já no repouso da primeira fase da viagem de um dia que não se adivinhava fácil para as mecânicas, principalmente devido ao calor previsto e que as rádios anunciavam logo pela manhã. Nem dois minutos depois chega o Jota Pê e o Pedro Francisco e seguimos em “comboio” até à maquina de café mais próxima.
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Primeira dose de cafeína tomada, lançámo-nos em direcção a Setúbal. O GT86 tinha coisas combinadas na zona portuária e os restantes apontaram à Arrábida. Lembro-me de ir a fechar o grupo, já fora da A2, e de agradecer pelo ritmo animado com que o Jota Pê estava a conduzir, permitindo-me não só tirar algum gozo do brilhante chassis do Megane, como também de ver o Focus do Rafael, logo à minha frente, a abordar o curva e contra curva com uma grande postura, sem indecisões ou atrasos nas mudanças de direcção. Que início de dia, digo-vos. Já lá em cima, por muitas vezes que se visite a Arrábida, a paisagem não deixa de impressionar. E as estradas de convidar, claro.
Enquanto, do outro lado de Setúbal, o Guilherme fazia o aquecimento ao GT86 e o Fábio se preparava para o gravar em modo “full attack”, eu preparei o Megane para a objectiva do Pedro e o discurso para a do Rafael. Gravadas algumas das cenas, bem como registados alguns momentos mais dinâmicos com o Trophy-R, recebo indicação do Rafael, via “bluetooth”, de que o Pedro ia lançar o drone e que se exigia nova dose de passagens com o mais radical dos desportivos compactos que uma “pipa de massa” pode comprar. Não foi nenhum sacríficio e não resisti a colocá-lo no modo Sport para poder usufruir ainda mais daquela desculpa para esmagar o acelerador que alimenta os 300 cavalos. Ali, por entre o denso verde da encosta, o poderoso mas minúsculo Megane fintou a física e fez-me suar, numa descarga tão grande de potência quanto de adrenalina.
De forma a aproveitarmos o cenário e os meios disponíveis, descemos todos até aos “cimentos” do Outão. Ali, o plano era gravar algumas passagens do Focus ST bem como a sua apresentação. Um tripé na berma da estrada e um desportivo a fazer constantes inversões de marcha é já motivo suficiente para atrair as atenções daqueles que já se começavam a dirigir para as excelentes praias da zona. Mais nas vistas dá o gritante Trophy-R, a arrefecer na berma da estrada, em pleno constraste térmico e visual com aquele cenário “Detroitesco”, frio e cinzentão, onde o ST desfilava. Terminada esta nova fase do caderno de encargos, o Fábio liga-me e diz que precisa de um carro de apoio para gravar o GT86 a subir a serra. O Jota Pê foi o motorista de serviço que permitiu a captação das excelentes imagens do Toyota.
Ir a Setúbal e não comer choco frito é quase tão mau quanto ir à Arrábida num carro com 60 cavalos. E se não falhámos na potência, pois tínhamos, no total, 780 cavalos connosco, não íamos estragar o dia perfeito ao comer sushi ou carne de porco preto alimentado a bolota. Seguimos para o centro histórico e seguindo a orientação do Pedro Francisco tivemos, como alguém que quer eu, quer ele tão bem conhecemos diria,“um verdadeiro deleite do repasto”. Já com a segunda dose de cafeína no organismo – que pouco efeito teve num dia que começou às 5 horas da manhã para todos – partimos para os últimos trabalhos. O dia terminou com as máquinas reunidas em Lisboa e com algo bem mais importante do que uma sensação de dever cumprido, a devida valorização de passar um dia com os amigos a fazer algo de que gostamos, com companheirismo e espírito de entreajuda. Com as devidas precauções, foi um dia na estrada verdadeiramente memorável. A todos, o meu obrigado.
Fotos: Guilherme André/Automotiva