Desafio #9: clássicos com mais 10 anos do que eu
Proposta da semana: escolher um automóvel, eventualmente já com estatuto “clássico”, que tenha (pelo menos) mais 10 anos de vida do que quem o vai resumir. Naturalmente que as opções são múltiplas, decorrentes do intervalo de anos em que os nossos mecânicos nasceram!
Dado que o menos jovem é 30 anos mais velho do que o benjamim, o intervalo ficaria balizado entre os anos de 1957 e 1987, só que houve uns choradinhos extra para uma benesse de uns “anitos” para trás do estipulado, não é, senhor Isaac? Nada que faça perder o interesse em mais uma troca de ideias, naquele que é o 9º Desafio da Garagem!
Jota Pê – Eco la Nuova Fiat Cinquecento
Lançado em Julho de 1957 pela Fabbrica Italiana Automobili Torino, num desfile memorável de 50 unidades pelas ruas da cidade italiana, o original Cinquecento tornar-se-ia numa das referências do mundo automóvel. Herdeiro do também popular Topolino e antecessor do 126, o sucesso granjeado por este micro-utilitário, nascido do lápis de Dante Giacosa, traduziu-se em mais de 5,2 milhões de unidades produzidas entre 1957 e 1975, na carroçaria original e nas que dela derivaram.
Prática e acessível, a geração “N” chegou para dar luta a outras miniaturas de sucesso da época, como o Citroën 2CV, Mini, VW Carocha ou o Renault 4L, apostando em dimensões híper-compactas (2,97 m de comprimento e uma altura igual à largura, de 1,32 m), para um interior simplista, de 4 lugares, acessíveis através de portas suicidas. Atrás pulsava um 2 cilindros de 479 cc (500 cc nominais) arrefecido a ar, com 12 cv, consumos na ordem dos 4,5 l/100 km e uma velocidade máxima de uns estonteantes 85 km/h, algo possível dado o seu diminuto peso, de cerca de 470 kg!
A gama evoluiria, depois, para outras variantes (Sport, D, Giardiniera, F/Berlina, L/Lusso, R/Rinnovata, America, etc), com diversas alterações, sendo uma das mais significativas a adopção de portas convencionais e outros motores, incluindo o 698 cc (64 cv) para as versões racing da Abarth, braço desportivo da marca italiana, para os 695 esse-esse.
Protagonista nas mais diversas vertentes, incluindo o grande ecrã, o Cinquecento foi também actor do cinema italiano, da comédia britânica “Italian Job” (1969) e personificado pelo “Luigi”, da saga “Carros”, da Disney, um eléctrico 500 cuja matrícula é “44.5-10.8”, latitude e longitude da fábrica de Maranello, da Ferrari!
Mas mais do que explicar ao detalhe este portento em miniatura da indústria automóvel mundial, convido-te a ver este pequeno vídeo de arquivo do Centro Storico Fiat.
Guilherme André – 1987, o ano de grandes carros e não só
Depois de uma matemática fácil (1997-10 = 1987) tentei lembrar-me de algum carro que tivesse surgido nesse ano. Fiquei estupefacto quando questionei o meu pai e ele me disse “tu nem imaginas”. Pensei logo que coisa boa não vinha dali, mas foi quando ele me diz Ferrari F40. Rapidamente fui confirmar e percebi que me calhou um dos carros mais icónicos de uma das marcas mais conceituadas do mundo! Durante dois anos foi o carro de produção homologado para estrada mais veloz e conheceu 1315 unidades. Este é alimentado pelo motor V8 de 2936 cc, sobrealimentado por dois turbos IHI, e chega aos 478 cavalos às 7000 rpm. Hoje são autênticos carros de colecção apenas ao alcance de algumas carteiras e raros de se ver, mas 1987 teve muito mais do que este supercarro.
A título de curiosidade, em 1987 foi também apresentado o Peugeot 405 e, no que diz respeito a competição, Walter Röhrl tornou-se na primeira pessoa a conseguir fazer a montanha de Pikes Peak em menos de 11 minutos com o mítico Audi Quattro S1. Tudo isto é acompanhado pelo lançamento de vários hits, como por exemplo, Sweet Child O’Mine do álbum Appetite for Destruction de Guns N’Roses. Sinceramente, acho que desta vez fui o mais sortudo!
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João Isaac – Ford Escort MK1 (1968)
Este mais recente desafio é, para mim, bem mais do que isso. Seria o realizar de um sonho. “Aquele” carro. O único que me chegava para tudo, aquele tão difícil de alcançar e que está cada vez mais longe, com preços que não param de subir. A minha escolha é um Ford, um modelo que o meu Avô comprou novo em 1969 por menos de 70 contos. Sim, 350 euros por um carro com zero quilómetros e depósito cheio, malta nova! Este carro está para mim como a Eleanor, o Shelby GT500 do “Gone in 60 Seconds”, está para o Nicholas Cage ou, como o meu querido Avô diria, o “Cagé”.
Escolho-o neste desafio não só pelas memórias do meu Avô, mas também porque é um carro, a meu ver, lindíssimo. Trata-se do primeiro Escort da história, um modelo com um longo currículo nas estradas, nas pistas e nas duras etapas do mundo dos ralis. E esse currículo continua a ser escrito, mais em competição de carros clássicos no que nas estradas, obviamente, mas eles ainda por aí andam. E como, uma vez mais, não nos foi imposto qualquer limite para a máquina deste desafio, escolho algo mais potente do que o Escort 1100 que o meu Avô teve até 1980 e que foi também o carro da juventude do meu Pai.
Quem me dera ter um 1100. Quem me dera! Mas sonhar não custa e por isso vou pedir um raro Mexico. Ou um Twin Cam, com motor derivado do do “Lotus Cortina”, outro carro do qual não gosto nada. Ou um RS2000 com motor Pinto. Ou, por que não, um RS1600 com aquele fabuloso motor BDA, prova de que um quatro cilindros pode soar incrivelmente bem. Ou ainda um ex-oficial dos ralis, a dizer Hannu Mikkola junto do meu nome. Algo assim. Bem, este texto vai ficar por aqui. Foco! Vou mas é procurar o Escort dos meus sonhos.
Rafael Aragão – 1978 e O Primeiro de Uma Grande História
Ainda que a crise do petróleo de 1973 já tivesse provocado a mudança no paradigma automóvel, especialmente nos EUA, dos motores gigantes para os mais económicos, em particular os japoneses, com a Toyota e a Honda a liderar a mudança, ainda estava muito presente, tanto no design como na mentalidade das pessoas, aquela ambição em ter um carro enorme. Carros como os gigantescos “familiares” coupés, tipo os Chevrolet Impala, BMW Serie 6, Lincoln Mark V, Mercedes-Benz 300D Coupe e por aí fora eram, ainda, uma “prova” de sucesso.
Mas dez anos antes do meu nascimento – em 1988 – nasceu o primeiro carro de um departamento que alimentou, e continua a alimentar, as paixões automobilísticas de milhões de pessoas: o BMW M1. Um carro que começou por ser desenvolvido em parceira com a Lamborghini, mas que, por motivos financeiros e de produção, passou totalmente para as mãos da BMW. Ainda pensei em escolher o Porsche 911 SC, na configuração Targa – um dos meus carros favoritos – mas achei que, pela importância histórica e tecnológica do primeiro M, faria sentido este. Um chassi tubular com carroçaria em fibra de vidro e o motor M88 (que serviu de base para o primeiro M5) de 6 cilindros em linha e 3,5 litros de cilindrada, capaz de 277 cavalos e 330 Nm de binário na sua configuração de estrada, mas que chegava aos 470 na versão Procar e mais do que triplicava na versão twin-turbo de competição do Grupo 5.
Infelizmente, só foram construídas 460 unidades, sendo que, dessas, apenas 400 foram para as nossas estradas. Os restantes foram modificados, melhorados e postos a competir a mais de 300km/h. Os outros ficavam-se por uns mais singelos 265km/h mas com todo o carácter e personalidade de um dos mais raros e fantásticos carros da BMW. Se alguém tiver um e se quiser chegar à frente para um ensaio, eu prometo que não estrago.
Fotos: Oficiais/Internet/Disney/RM Auctions