Honda Civic 1.5 Turbo – Meia dose de Type R chega bem
Publicar este ensaio pouco tempo depois de vos termos trazido o Honda Civic Type R é estranho, admito. Um pouco como ver os Stones em live streaming. Não é a mesma coisa. Mas olha, é o que é. E os Rolling Stones dão sempre espectáculo. O Civic não é diferente. Já cá anda há muito tempo e nunca faz mal as coisas. Isto porque mesmo com o motor 1.5 Turbo no lugar da bomba atómica que é o 2.0 Turbo de 320 cavalos do Type R, o Civic continua a ser uma das melhores propostas do segmento, neste caso, não dos desportivos, mas dos compactos familiares.
As qualidades do Civic não são notícia para ninguém. Notícia seria a Honda lançar um Civic mau. Isso sim. São muitos anos disto, muitas gerações, milhões de unidades vendidas em todo o mundo. No entanto, aqui no nosso cantinho, vejo poucos. E tenho pena que muitos dos condutores portugueses não saibam o que perdem. Aplaudo o arrojo da Honda ao desenhar esta décima geração, mas o problema pode também estar aí. É a única explicação plausível que encontro porque sempre que o conduzo fico rendido às suas qualidades e também preciso de algum tempo para aceitar algumas escolhas estéticas.
Visto de frente, adoro. Ameaçador, dinâmico, intenso. Visto de trás, já são outros os adjectivos. Feio não é um deles. Mas diferente e arrojado talvez lhe assentem melhor e ambos requerem habituação. Não é um carro para todos, certamente. Mas esquecendo o visual, é todo o carro que todos precisam. O espaço abunda nos bancos traseiros e a bagageira é uma das mais utilizáveis que conheço, com espaço e versatilidade que não se espera encontrar num segmento C. Gosto também do desenho do tablier, com um painel de instrumentos digital e uma consola que nos envolve na condução, cuja posição ao volante é estupenda. O infotainment podia ser mais fácil de utilizar, mas a recente actualização deu-lhe agora botões físicos de atalho. Está melhor, Honda.
O motor de acesso à gama é um dos mais enérgicos dos 1.0 Turbo do mercado. O Diesel é um dos mais refinados e poupados e do 2.0 não vale a pena falar. Cliquem antes aqui. Pelo meio surge este 1.5 Turbo, com 182 cavalos e 240 Nm de binário. Com ele, o Civic chega aos 220 km/h e faz os 0 a 100 km/h em 8,3 segundos. Chega e sobra, garanto-vos. Muito suave de funcionamento, disponível na entrega e capaz de dar aquele som de motor que chega para fazer o gosto ao ouvido, discreto, mas presente. E os consumos? Pois, gasolina, turbo, mais de 180 cavalos. Não há milagres. Só. Que. Há. Menos de 7 litros em ciclo combinado, sem grande esforço em manter o pé leve.
A caixa de velocidades é excelente. Um prazer de usar. E fi-lo mais vezes do que precisava. Só porque sim. E se curvas é algo de que o chassis do Civic gosta, esta unidade que conduzimos estava ainda mais bem preparada para as enfrentar. Com os amortecedores adaptativos, o Civic é tão confortável na nossa Lisboa esburacada como dinâmico na Serra de Sintra. Ao toque de um botão transforma-se, mas de forma equilibrada. Não se “entorna” ao curvar no modo mais brando, nem fica insuportavelmente rijo no modo mais focado no comportamento. Boa onda, Honda.
O Civic está a envelhecer bem. Desde que foi lançado. Mas quando digo envelhecer refiro-me apenas ao nome, uma longa história no mundo automóvel. Porque de antigo, velho ou desactualizado não tem nada. Está sim a acumular anos de serviço, bom serviço e cada vez melhor. O Civic actual é um pacote muito completo, com muitos e bons argumentos, seja o motor, a condução ou a habitabilidade. O design é também um deles. E é bem melhor do que à partida parece. Prova disso é que das poucas vezes com que me cruzo com um, reparo imediatamente e penso: está ali uma pessoa que não só não comprou igual, como comprou melhor.
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