Estes óptimos carros não estão a vender. De quem é a culpa?
Fácil. A culpa é de quem não os compra, mais do que de quem os vende. Não quero novamente parecer que estou a atacar os SUV e os seus condutores, mas este é um fenómeno de tal forma surpreendente e duradouro que é impossível não voltar a escrever umas quantas linhas sobre o assunto. Principalmente quando os modelos que mais estão a sofrer com as incríveis vendas dos SUV são, muitas vezes, as berlinas que lhes servem de base, um formato que, pessoalmente, aprecio.
Decidi passar alguns minutos a olhar para os números das vendas de ligeiros de passageiros no nosso mercado e constatei algo muito curioso. O Jeep Compass, um SUV intermédio de uma marca completamente focada neste tipo de veículo de aspecto mais aventureiro, vende pouco. O Compass é um óptimo carro, com bons argumentos e com um emblema carregado de simbolismo, muito ligado às origens do conceito SUV e de modelos familiares apontados ao lazer. Apesar disso, de Janeiro a Agosto de 2020, um ano que não é exemplo para nada nem ninguém, mas que atingiu todos, a Jeep apenas entregou 92 unidades do Compass a clientes nacionais. Noventa e dois, o número que interessa reter.
A título de curiosidade e, também, de necessidade para seguir com o meu raciocínio, rivais e líderes de segmento do Jeep Compass como o Peugeot 3008 e o Nissan Qashqai, venderam, respectivamente, 1389 e 1484 unidades. O Compass está assim, infeliz e injustamente, longe de ser um sucesso de vendas em Portugal, mas com 92 unidades vendidas nos primeiros nove meses do ano, vendeu tanto como seis berlinas, de seis marcas diferentes, todas elas óptimas propostas familiares mas de formato mais clássico que o formato SUV e que os seus compradores/condutores estão a retirar das nossas estradas. Isto é algo que me deixa triste.
Já para não falar das berlinas do habitual trio alemão, essas sim, com uma expressão comercial bem mais elevada, mais próxima da dos SUV líderes, o que expressa bem o que é a prioridade do condutor português. Não me incomoda o facto de qualquer um dos três alemães, modelos de qualidade indiscutível, vender bastante mais do que qualquer uma destas seis propostas que os SUV estão a matar aos poucos. O que me deixa verdadeiramente triste é pensar nesta possibilidade: será que quem acaba por comprar qualquer um dos modelos alemães, em versões por vezes muito menos apelativas em termos de imagem, motor e equipamento, se lembrou sequer que estes seis existem? Terão ido conhecê-los melhor e conduzi-los? Ponderá-los, na verdade? Julgo que não e isso é que me preocupa.
Giulia + S60 + Talisman + Stinger + Mondeo + 6 = Compass
Neste período, a Alfa Romeo vendeu 31 Giulia e a Volvo entregou 20 S60 a clientes nacionais. Já a Renault, líder de mercado, vendeu 24 Talisman e a Ford, com o seu Mondeo, chegou apenas 15 clientes. Ainda mais doloroso do que estes números é saber que em 2020 apenas um condutor português soube o que é conduzir um Mazda 6 e somente um outro decidiu optar por algo diferente e assumidamente desportivo como um Kia Stinger. Mas há mais exemplos, noutros segmentos. Nomes fortes como o Civic, apenas com 249 unidades vendidas. Um carro muito espaçoso e com uma bagageira que envergonha alguns SUV do mercado, quer em volume, quer em sentido prático. Um dos carros mais vendidos do mundo. E é um Honda. Um símbolo que, não estando isento de possíveis falhas nos seus modelos, nada tem a provar a nível de qualidade e fiabilidade.
Não quero com estas linhas influenciar as opiniões e escolhas de quem está no mercado à procura do seu próximo automóvel. Quero apenas garantir que, previamente, todas as opções são ponderadas. A habitabilidade e sentido prático de uma berlina que por vezes não é assim tão inferior à do seu SUV meio-irmão, bem como propostas de outras marcas, também elas com argumentos ao nível da condução, da tecnologia, do conforto, da eficiência e, principalmente, do preço. Os números falam por si e a imagem acaba, também, por falar por todos nós, pois esse é e continuará a ser o principal argumento de venda de um automóvel. Goste-se ou não.
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