Sou um Alfista preocupado. Caro Carlos, o meu plano é o seguinte…
Durante anos tive o sonho de comprar um Alfa Romeo. Consegui, finalmente, concretizá-lo. Sou o orgulhoso proprietário de um Giulietta, um nome histórico numa marca centenária, cheia de muitos outros nomes importantes e cuja incertezas sobre o seu futuro me deixam, como Alfista e fã de automóveis, muito preocupado.
A continuidade da Alfa Romeo parece estar mais do que assegurada. Isso descansa-me. Mas quão Alfa Romeo será a Alfa Romeo do futuro? É que isso, por outro lado, desassossega-me. Eu tenho um plano, obviamente. Toda a gente os tem. Mas eu tenho todo o gosto em partilhá-lo com a Stellantis, à mesa com Carlos Tavares, se ele me desse esse prazer, enquanto falamos de automóveis e do porquê da Alfa Romeo ter de continuar a ser Alfa Romeo e não apenas mais um membro da equação PSA + FCA = STELLANTIS. A Matemática é uma ciência exacta mas a Alfa Romeo é bem mais do que contas. E eu espero que levem isso em conta.
Sim, a Alfa Romeo actual está muito longe de ser a Alfa Romeo de outros tempos porque as mudanças são inevitáveis. Duas grandes guerras, algumas fases verdadeiramente conturbadas em Itália, de crises socio-económicas, e claro, alguns problemas de corrosão e outros eléctricos que mancham, por vezes em quantidade exagerada, a reputação de uma marca que é, provavelmente, a mais apaixonante de todas. Pelos menos os seus fãs são indiscutivelmente mais apaixonados pela sua marca de eleição do que outros de qualquer outro símbolo.
Actualmente, a Alfa Romeo tem na gama três modelos. O Giulietta, modelo que por muito bom design, motores e plataforma que tenha, conta já com 10 anos de serviço, e ainda uma berlina e um SUV que são só duas das melhores propostas dos seus respetivos segmentos. A oferta é curta e a ideia de que a Alfa Romeo, tal como outras italianas, é uma marca pouco fiável continua no ar. Já chega. Isso já lá vai. E não vale a pena dizer que não avariam porque também não vendem. Isso não é verdade.
Segundo rumores do mundo automóvel virtual, Carlos Tavares é fã do Giulietta (é cá dos meus) e quer dar continuidade ao modelo. Desta dor de coração já me livrei. Espero eu. Já o Giulia e o Stelvio deverão ser alvo de uma outra actualização de forma a compensar a crise de meia idade que estão longe de aparentar ter. Deverão manter-se por mais alguns anos, mas não têm sucessor confirmado. O Tonale, esse sim, está confirmado. É um SUV, bem sei. Mas se os Macan e o Cayenne vendidos permitem que o 911 GT3 RS use um motor boxer atmosférico que grita até às 9000 rpm para produzir 520 cavalos, pode ser que o Tonale, juntamente com um revisto Stelvio e um hipotético SUV mais pequeno – que se poderá chamar Milano, curiosamente o nome que o actual Giulietta ia adoptar – mantenham entre nós o Giulia GTAm por muitos e bons anos.
Quanto ao meu plano, este é muito fácil de se entender. Pode é não ser fácil de pôr em prática. Mas isso, na verdade, não é problema meu. Eu limito-me a pedir e a pagar o almoço a uma das mais bem-sucedidas e influentes pessoas da indústria automóvel. Um português. E ao passar-lhe esta minha visão, vou tentar manter a emoção de parte. (Aqui entre nós, pelo bem da Alfa Romeo e da Stellantis, é melhor que ele não me dê ouvidos. Conhecem algum Alfista que não fale com o coração?)
Por favor, pelo Nicola, pelo Giuseppe, pelo Enzo, pelo Nino, pelo Giorgetto e vá, por mim e por todos os que a adoram, salvem a nossa Alfa Romeo.
Pois bem, ao trabalho. Novo Giulietta com plataforma EMP2? Aceito, claro, mas por favor, a direcção e a suspensão têm de ter, obrigatoriamente, uma afinação própria, digna daquilo que conduzir um Alfa Romeo representa. Eu também não ia aprovar um C4 com a postura de um Alfa Romeo. Seria estragar a Citroën de que tanto gosto. A electrificação é compreensível e o Quadrifoglio obrigatório. Fica ao vosso critério, mas dispensava a tracção integral e os exageros. O novo Giulietta Quadrifolgio deveria destacar-se por ser um “driver’s car” e não por limpar os tempos dos seus rivais no Nordschleife. Não quero versão Active, Cross, OutCenas. Quero um Sprint, isso sim, mas não como nível de equipamento. Quero com uma carroçaria distinta, como o original. Assim algo como o Alfa Romeo GT, por exemplo. Parece-me ser algo simples e barato de concretizar…
Quanto ao Tonale e ao possível Milano, não tenho grandes exigências a fazer a não ser que, mesmo sendo SUV, sejam verdadeiros Alfa Romeo, o mais distintos possível. Não seguir o caminho de todos os outros, o exagero do costume com plásticos pretos e jantes exageradamente grandes que nada fazem. Personalidade, proporção e elegância. Fácil para quem desenha Alfa Romeo para ganhar a vida. Eu não consigo. Nem tento. Quanto ao Stelvio e principalmente ao Giulia, mantenham, por favor, a plataforma Giorgio de tracção traseira. Quero também uma caixa manual associada motor 2.0 Turbo. O Alfasud deveria regressar, apontando às cidades com uma versão 100% eléctrica, tal como o primo 500. E deviam adoptar a mesma estratégia para o design. Recuperar um ícone. E já que estou numa de discos pedidos, peço o Volante. O Disco Volante. Uma das mais soberbas criações com quatro rodas de sempre. Um automóvel que não é novo, mas que não importa. Intemporal, perfeito, raro e caro. E longe. (Foco, João. Foco. Estás a perder o Carlos.)
As plataformas vão ser partilhadas? Obviamente. Os motores? Diria que sim. O design? Jamais. O ano de 2020 foi um ano de celebração, o ano do 110º aniversário da Alfa Romeo. Mas 2021 vai ser incomparavelmente mais importante para a marca italiana. Estou preocupado. Estou entusiasmado. Por favor, pelo Nicola, pelo Giuseppe, pelo Enzo, pelo Nino, pelo Giorgetto e vá, por mim e por todos os que a adoram, salvem a nossa Alfa Romeo.
Tentei. Por isso, das duas, uma: ou a Alfa Romeo segue o plano de reestruturação oficial, ainda por conhecer e, esperamos nós, prospera com menos personalidade; ou caso o almoço esteja mesmo bom, seguem o meu plano e teremos a Alfa Romeo de volta. Provavelmente, durante pouco tempo. Três meses, vá. E como eu gosto demasiado da Alfa Romeo, vou deixá-los seguir com as ideias deles. Esta união da FCA com a PSA foi, tenho esperança nisso, a melhor coisa que podia ter acontecido à nossa “Alfa”. O que mais espero é que 2021 e os seguintes, não provem que estou enganado.