Renault Twingo: o eléctrico mais barato é aquele de que precisamos?
Escrevi, esta semana, uma crónica – demasiado longa, reconheço – onde tentei exprimir a minha incompreensão para com a exagerada subida dos valores de potência dos modernos veículos eléctricos. Gosto de automóveis e gosto, obviamente, de potência. Não tenho nada contra isso – antes pelo contrário! – mas acho que devemos saber separar as coisas. Muita potência para andar, pouca potência para poupar, tal como sempre foi, na evolução do motor de combustão. O automóvel eléctrico não é excepção. Se queremos poupar, não é com quatro dígitos de potência disponíveis ao mais ligeiro toque no acelerador. Ainda assim, acho que a mensagem não passou. Pode ser que o ensaio que hoje vos trago, ao novo Renault Twingo Electric, o eléctrico mais barato do mercado, vos convença.
O Twingo Electric é assumidamente citadino. Mas…
O Twingo é um citadino. Sempre o foi, na verdade, mas agora que se electrificou, está ainda mais orientado para uma utilização na cidade e as suas dimensões, genica e reduzido raio de viragem inserem-no na paisagem urbana de forma irrepreensível. No entanto, com um motor de 82 cavalos e 160 Nm, o Twingo mais ambientalmente responsável de sempre não se assusta com o tapete negro de uma autoestrada, pois consegue atingir os 135 km/h. Não é o seu palco de eleição, mas não o teme, como pudemos comprovar neste nosso reencontro com o giro Twingo, depois de o Rafael o ter ido conhecer na sua apresentação nacional.
Vamos a contas com o mais barato
Se a ideia é poupar, o planeta e a carteira, então as essenciais contas começam bem, pois o Twingo é, como abri este artigo, o eléctrico mais barato que podes comprar. Está disponível em dois níveis de equipamento, Zen e Intens, e custa a partir de 22.200 €. A versão mais equipada custa mais 1000 €.
Para testar as capacidades do Twingo, e baseando-me apenas nos custos de carregamento do meu CEME – Comercializador de Electricidade para a Mobilidade Eléctrica, bem como na taxa do Operador do Posto de Carregamento mais próximo da minha casa, tentei reproduzir dois tipos de utilização a que o Twingo Electric pretende responder.
O primeiro, puramente citadino, um circuito diário de apenas 6 quilómetros que representa a utilização de um dos carros “cá de casa” ao longo da semana. Recorri ao modo ECO do Twingo, e a média de consumo de energia, neste ambiente urbano, ficou-se pelos 11 kWh/100 km, valor que confirma os 200 quilómetros de autonomia declarados pela Renault para a bateria de 22 kWh. Os 270 quilómetros, em ambiente citadino, pareceram-me difíceis de atingir.
Através de um posto de carregamento normal de 3,7 kW, o carregamento do Twingo demorará, em média, umas 6 horas e terá um custo de aproximadamente 5 €. Considerando a utilização referida e um dos meus carros actuais, o pequeno Renault seria um substituto perfeito, respondendo à totalidade das necessidades, com um único carregamento de bateria, durante pelo menos um mês. Um custo de 2,5 € por cada 100 quilómetros é extremamente apelativo.
Para o segundo cenário, mais exigente, seria importante ter uma garagem com instalação eléctrica dedicada para o carregamento, evitando as deslocações mais regulares ao posto. Por isso, imaginando que tenho uma wallbox particular na minha garagem, e graças ao carregador “Camaleão” do Twingo que suporta cargas de até 22 kW, o processo de recarga demoraria, nestas condições ideais, apenas 1 hora.
Neste tipo de utilização, comum para quem vive na periferia de Lisboa, são comuns os circuitos diários com cerca de 60 quilómetros, divididos, maioritariamente, entre percursos urbanos e auto-estrada. O Twingo, tal como todos os eléctricos, tem “mais sede” neste último ambiente. Ainda assim, o consumo medido ficou-se pelos 12,4 kWh/100 km, média que se traduz numa autonomia aproximada de 175 quilómetros e que permitiria que o Twingo apenas tivesse de ser ligado à tomada, sensivelmente, de três em três dias, durante uma hora com um carregador de 22 kW ou por três horas com um de 7,4 kW.
Há, obviamente, outras variáveis a considerar. São disso exemplo o estilo de condução de cada um de nós, o tráfego que possamos enfrentar e a disponibilidade de valores exactos de potência de carregamento nos postos particulares ou públicos. Mas parece-nos ser inquestionável o excelente desempenho do Twingo Electric, quer como citadino, como sempre foi, quer como eléctrico, como agora se apresenta.
Um dos que dizemos não querer, mas de que efectivamente precisamos
Com esta conclusão, volto a bater na mesma tecla, bem sei, mas também respondo à pergunta inicial, pois do meu ponto de vista, o Twingo é, tal como outros pequenos eléctricos do mercado, um daqueles que até podemos não querer, mas que são tudo aquilo que precisamos num veículo deste tipo. Daqueles que fazem todo o sentido para quem quer investir num 100% eléctrico para poupar, os seus bolsos e o ambiente. Para além disso, é incrivelmente giro, fácil de conduzir e é, volto a frisar, o eléctrico mais barato do mercado, com potência, autonomia, equipamento e espaço mais do que suficiente para a utilização diária de uma grande parte dos condutores. É bom e é o mais barato. É disso que precisamos.
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